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segunda-feira, março 24, 2008

Produto do Meio


Produto do meio
Entorpecido eu me sinto
alentando minhas feridas
calos de pessoas que se foram
e continuam indo

E eu quero tanto tudo
que acabo me enchendo
e andando, e andando
pra chegar ao fim

Nunca acontece
mas desaparece e explode de novo
com tudo o que tinha dentro
fazendo uma ferida maior
outro rastro de horror

Que estranhamente se torna amor
de tudo e todos
da vida dos outros
que te ouvem e não
pois são e não estão

Dentro do peito
entorpecido e marcado
seco e dilacerado
produto do meio.

domingo, março 16, 2008

Olhos à Procura

Meus olhos mostram quem sou,
mas também te mostram com estou
sem vontade de abrir-me a esse mundo
onde tudo que era bom acabou

Sonâmbulo, procuro bondade,
ternura, que talvez só encontre em suturas
causadas por palavras sutis e gestos vazios
mas causando o choque de êxtase de dois corpos
cansados de serem frios

E se esquentam até virarem cinzas de novo...
...aos olhares à procura do insano.

É Sempre Assim


sem sangue, sangrando
com vida, morrendo
sem tuas mãos ao redor, sem teu suor no ar
esperando por algo maior
e é sempre assim...

maior que a loucura
e ela é a maior
mais forte que a apatia encontrada em seu corpo
mas o poço de almas secou
e é sempre assim...

sem ar, respirando
o nada, o mundo
que maldito conto de fadas
que malditas palavras sufocadas
que folhas malditas de poemas queimados
e é sempre assim...

e isso tira tanta força daqui
que parece enevoar todos os pensamentos
bloquear toda a energia de outros alentos
petrificar o coração já esmagado
e é sempre assim...

quarta-feira, março 12, 2008

Não Sou Seu


Não me trate como sendo seu,
pois não sou
apenas estou
aqui, junto de você
no breu.

Breu de pensamentos turvos,
águas claras,
sentimentos límpidos
onde você chora
com a maquiagem borrada.


Borrada de verdades,
Borrada de silêncios,
em meio à vaidades,
em meio ao extravasamento.


extravasamento de você em mim,
como um rio sem fim
que passa e passa
mas continua ali.


está aqui, mas não é meu
pois é seu o sentimento
que outrora tu negou
só pra depois esquecer o lamento.


Lamento te dizer, não sou seu
mas estou aí
e seria seu se fosse meu
mas tudo que é meu se desfez no seu
quem agora sou eu?

Encontros



Encontros desencontrados
vidraças quebradas
pensamentos vagos

águas passadas

Que vêm e vão
pra fazer lembrar
mas que acabam passando
de olhar em olhar

E mesmo que algo esteja faltando
despedaçado dentro
eu sei que você vai estar aqui
me cedendo um alento
só pra me ver sorrir

Reconstruir tudo que se foi
fazer do choro uma música pra depois
e o abraço, momento de agora
por que enquanto estamos aqui
tem muita vida lá fora.

terça-feira, março 11, 2008

O Choro


A chuva cai
e vem lavar
as mágoas saem
como o sangue a rolar

Como uma bola de neve
vermelha dura
mas real e pura
como o chão que se pisa

E quando passa vem o sol
aquecer de novo o que se foi
o que esfriou por não ser
o que acabou sem saber

como algo que não sai
apenas pra atordoar
as lágrimas que caem
como o sangue a rolar

E nada disso acabou importando
e todas as forças foram ficando
mas tudo isso que falo vai chover de novo
como fantasmas do passado, do sufoco
e devorar as lágrimas e o sangue,
o choro.

Nos Meus Olhos


Olhe nos meus olhos

o que você vê
você?
não.

Olhe ao seu redor
tente me encontrar
mas não se perca
não perca o ar

Esse fôlego que aparece
as vezes te faz esquecer
que pode sumir a qualquer segundo
e entorpecer a sua mente com o que está no fundo

não vê?
sou eu.
nos teus olhos
no teu rosto
na tua boca
na tua alma

Olhe nos meus olhos
o que você vê
você?
não,
nós.

De Vez Em Quando


De vez em quando
a dor aumenta
de vez em sempre
o coração não agüenta

Mas se tudo isso tem que acontecer
que seja.
Passos descontínuos me acompanham
ouvindo músicas de tons foscos
perto de sereias cantando
e o lamento dos ogros.

e quem se importa?
pode dormir que eu não ligo.

E o olho vê tudo,
mas não quer ver
a noite vem chegando
depois do entardecer
e as pedras vão rolando
sem saber onde parar
e fazendo esquecer
a dor de estar amando.

segunda-feira, março 10, 2008

Insonia


Insonia
vazio forte
cheiro de amônia
olhando ao norte

e o cansaço continua
mas a penumbra camufla
de forma estranha
o que a loucura não sana

e você anda
caminha e corre
pra saber o que tanto sangra
acaba não descobrindo, se desvia e morre

mas vive de novo
como uma troca de peles
deixando o que é velho, oco
enquanto a nova vida se ergue.

domingo, março 09, 2008

Sofrer


Sofrer já não importa mais

o horizonte se abriu

trazendo o sorriso do mar

aquele que ninguém viu


Cheio de luz, como o próprio sol

iluminando a noite

pra todos sairem

e prepararem o açoite


Chicotadas de penumbra

confortavelmente dolorosas

por saber que a vida acaba

sem se ter feridas profundas


O prazer em conhecer é destrutível

e quando a noite cai, a vida se perde

pra se achar nas cicatrizes mais possíveis

de pessoas que se cruzam na vida


E por isso sofrer não é algo importante

é algo natural, como a fala de um dialéto banal

fazendo entender no simples

o que se esconde nos ditos pensamentos especiais.